sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O Assasinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (****)


O filme de Andrew Domick é uma maravilha para se olhar, e neste caso admirar. Depois de 3 anos de produção, notícias de um acabamento irregular, dificuldades de montagem, briga com produtores e medo de "bombar" nas bilheteria, eis que o filme que conta a folclórica história do anti-herói americano e do anti-vilão que o matou se torna um sucesso no circuito de festivais. E não é para menos, o filme é quase uma obra-prima, quase...
No melhor estilo dos westerns psicológicos seguimos o personagem de Jesse James, interpretado com vontade e perspicácia de olhar por Brad Pitt, no que podemos chamar de fim de carreira mas auge da fama. Jesse James deve ter sido o primeiro pop-star americano, com revistas em quadrinho e notícias de jornal diariamente sendo publicadas com seu nome e de sua família. Mas tudo isso vai muito bem, ele leva uma vida no anonimato, é um "caixeiro-viajante" para mulher e filhos e um pistoleiro e assasino para companheiros e autoridades. O erro de James? deixar misturar os dois mundos.... como se não mistura-los fosse algum dia uma alternativa para quem leva uma vida assim.
O filme é uma bela obra de paço lento, que conduz sabiamente até o devido e esperado momento do assasinato. Cada paisagem é melacólica e cada passo leva em direção ao inevitável destino. Jesse se deixou matar? no filme parece que sim... mas porque? é o que o diretor leva o espectador a pensar. E é aí que entra o fatídico e dramaticamente grego personagem de Robert Ford. Garoto, de apenas 18 anos no começo da projeção, instável, inseguro e sem personalidade, e, ainda assim, possivelmente o maior fã de Jesse. (há aí uma conotação homessexual de desejo e admiração entre os dois que o filme não deixa passar despercebido, mas que não se torna característica marcante, apenas mais um agravante de tensão entre os dois). Jesse, por mais insensato que pareça, assume Robert como ajudante e companheiro, numa relação de autos e baixos, vaidades e intrigas, intimidade e traição que culminará notoriamente no assassinato dessa "estrela do faroeste".
É um filme piscologicamente intrigante, e o diretor explora estes momentos do roteiro lapidando-os como um diamante belo e raro do cinema. É, aí, que eu acredito, que há o erro e o excesso de zelo que não permite este belo filme de ser a obra-prima que merecia: pelo excesso de planos bem planejados e paço arrastado o filme se torna "frio" e "distante" quando deveria se intenso e emocional. É maginificamente fotografado e dirigido artisiticamente, mas falta o tesão e a tensão da morte que rodeia. Veja bem, isso não diminui a carga psicológica nem os méritos, que são muitos, do filme, mas o torna longo e em certos momentos aborrecido.
Mas mesmo assim há muito que se exaltar nessa quase obra-prima que é um dos melhores filmes do ano: Brad Pitt esta maduro e irrepreensível como Jesse James, seu olhar congela a alma de aterroriza qualquer um, as locações e a sutiliza da foto são maravilhar cinematográficas, assim como a direção de arte, o ritmo do filme (apesar de tudo) nos leva calmamente para o caminho da morte premeditada, mas o que acredito ser o maior ativo desta obra é a atuação inesquecível de Cassey Affleck como Robert Ford. Sim, ela é cheia de maneirismos, mas que maneirismos.... não sei como este ator chegou nesse nível mas o filme funciona por causa de sua serpenteosa forma de olhar, de falar, de reagir, inseguro mas ainda assim muito perigoso... todo mundo conhece alguem assim, sabe que não se deve confiar, sabe que não se deve gostar de pessoas tão "insignificantes", sabe-se que deve ajudar e ter pena, porque é tudo que elas querem... mas são os personagens dramaticamente gregos que não conseguem fugir de seu destino trágico. Roberto Ford nasceu e morreu para assasinar Jesse James, ele sabe disso, Jesse sabe disso, o cineasta sabe isso e o filme não deixa nenhuma dúvida para o espectador.
Um filme que merece ser visto e revista depois de um tempo.

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